Bebês nascem sabendo discernir ritmos musicais, sugere estudo

Bebês nascem sabendo discernir ritmos musicais, sugere estudo

Em 2009, um grupo de pesquisadores da Universidade de Amsterdã publicou um estudo alegando que bebês recém-nascidos possuem a capacidade de discernir uma pulsação regular (batida) de uma música. Inclusive, essa é uma habilidade que pode parecer trivial para a nossa espécie, mas é fundamentalmente usada para a criação e a apreciação musical entre os humanos.

Para obter essa informação, o experimento envolveu tocar ritmos de tambor, ocasionalmente omitindo uma batida, para observar a resposta dos recém-nascidos. Para a surpresa dos cientistas, os pequeninos participantes demonstraram uma antecipação da batida perdida por meio de um pico distinto de atividade cerebral, sinalizando uma violação das suas expectativas quando a noite foi omitida. 

Música e bebês

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Publicada originalmente no MIT Press, a descoberta não só revelou as proezas musicais dos recém-nascidos, como também ajudou a lançar as bases para um campo cada vez mais em destaque dedicado ao estudo das origens da musicalidade. Em comunicado oficial, o principal autor da pesquisa e professor de Cognição Musical na Universidade de Amsterdã, Henkjan Honing, afirmou que “a música não é apenas um fenômeno cultural, mas também possui raízes biológicas, aparentemente oferecendo uma vantagem evolutiva à nossa espécie.”

No entanto, como qualquer descoberta científica, muito ceticismo surgiu assim que os primeiros dados apareceram. Alguns cientistas passaram a desafiar a interpretação dos resultados, sugerindo explicações alternativas enraizadas na natureza acústica dos estímulos usados nos recém-nascidos. Outros, por sua vez, argumentaram que as reações observadas foram resultado de aprendizagem estatística, questionando a validade da percepção da batida como um mecanismo separado essencial para nossa capacidade musical.

Contudo, os criadores do estudo argumentam que os bebês envolvem-se ativamente na aprendizagem estatística à medida que adquirem uma nova língua, permitindo-lhes compreender elementos como a ordem das palavras e estruturas de sotaque comuns na língua nativa. Então, por que a percepção musical seria diferente? 

Revisão de dados

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Para enfrentar qualquer desafio científico, os pesquisadores decidiram revisitar e reformular o estudo de percepção de batida em 2015, expandindo o seu âmbito, método e escala para incluir não só recém-nascidos, como adultos (músicos e não músicos) e macacos. Os resultados, publicados na revista Cognition, confirmam os dados obtidos em 2009. 

O estudo forneceu evidências convergentes sobre a capacidade de percepção de batimentos dos recém-nascidos, o que significa que métodos alternativos chegaram à mesma conclusão. Quando os mesmos testes foram empregados em macacos em 2018, os cientistas não encontraram qualquer evidência de processamento das batidas musicais, mas somente uma sensibilidade à isocronia — a regularidade dos ritmos.

Isso sugere que a evolução da percepção das batidas se desenrolou gradualmente entre os primatas, atingindo o seu ápice nos seres humanos e se manifestando com limitações em outras espécies. A pesquisa não apenas contribui para a nossa compreensão dos fundamentos biológicos da musicalidade, mas também percorre a natureza multifacetada da nossa capacidade de perceber e interagir com elementos rítmicos ao nosso redor. 

Com isso, é possível constatar que a música não é apenas um fenômeno cultural dos humanos, mas também confere uma vantagem evolutiva à nossa espécie.