Em ano de recordes negativos, Ártico se prepara para futuro incerto

Em ano de recordes negativos, Ártico se prepara para futuro incerto

Em 2023, diversos recordes negativos foram quebrados pelo nosso planeta, sobretudo no Ártico. A região teve o verão mais quente de toda a sua história, o que também acabou impactando pessoas e ecossistemas em volta. Incêndios florestais forçaram evacuações em todo o Canadá e até mesmo a Groenlândia esteve tão quente que uma estação de pesquisa no cume do manto de gelo registrou um derretimento no final de junho.

As temperaturas da superfície do mar em Barents, Kara, Laptev e Beaufort estiveram 5 °C a 7 °C acima do normal em agosto e, embora medições confiáveis de instrumentos remontem para 1900, é quase certo que este foi o verão mais quente do Ártico em séculos. Então, o que deve se esperar para o futuro?

Efeito em cascata do calor no Ártico

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

No Boletim do Ártico de 2023, lançado em 12 de dezembro, 82 cientistas de todo o mundo se reuniram para avaliar os sinais vitais do Ártico, as mudanças em curso e os seus efeitos nas vidas em toda a região e também em todo o mundo. Numa área tão grande como essa, qualquer acréscimo de 0,1 °C na temperatura já oferece impactos negativos significantes.

O verão de 2023 — que vai de julho a setembro — quebrou o recorde anterior, estabelecido em 2016, em quatro vezes. Ou seja, as temperaturas em quase todo o Ártico estiveram acima do normal nesse período. A cobertura de neve no inverno derreteu mais cedo em grande parte do norte do Canadá, proporcionando um mês extra para o Sol aquecer o solo exposto. O calor e a falta de umidade, por sua vez, secaram a matéria orgânica abaixo da superfície.

Com isso, em novembro, 180 mil km² haviam queimado em todo o Canadá, cerca de um quinto disso nos territórios do noroeste. No mar de Beaufort, a água quente derreteu o gelo marinho precocemente, algo também visto no oeste da Sibéria nos mares de Kara e Laptev, ao norte da Rússia. O declínio do gelo marinho do Ártico tem contribuído muito para o tremendo aumento das temperaturas médias de outono em toda a região.

Vidas em risco

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Para muitas pessoas que vivem no Ártico, as alterações climáticas já estão perturbando vidas e meios de subsistência. Observadores indígenas descrevem mudanças no gelo marinho das quais muitas pessoas dependem tanto para a caça de subsistência quanto para a proteção costeira contra tempestades. Em terra, o aumento das temperaturas está tornando o gelo dos rios menos confiável para viagens e o degelo da chamada “permafrost” está afundando estradas e desestabilizando casas.

Comunidades do oeste do Alasca, que dependem do salmão Chinook, testemunharam mais um ano extremamente baixo de retorno de salmão adulto em 2023 — escassez que perturba práticas culturais e também a segurança alimentar. À medida que as comunidades indígenas se adaptam às mudanças nos ecossistemas, as pessoas também estão tendo que lutar para curar as suas paisagens.

Pesquisadores em todas as partes do Ártico trabalham incansavelmente para restaurar o habitat danificado de espécies em extinção, mas esse esforço tem sido desgastante. As temperaturas na região têm aumentado três vezes mais rápido do que a média global. Logo, a humanidade precisará agir rapidamente se não quiser assistir desastres e tragédias se repetirem todos os anos.