Griselda Blanco: a 'rainha da cocaína' que conspirou para matar filho de JFK

Griselda Blanco: a 'rainha da cocaína' que conspirou para matar filho de JFK

Houve um nome mais infame antes de Pablo Escobar fazer sua fama na história do narcotráfico colombiano, e esse era o de Griselda Blanco, a “rainha da cocaína”, que conspirou para assassinar o filho de John F. Kennedy.

O nome da mulher ressurgiu com o lançamento da minissérie Griselda, da Netflix, mas sua trajetória já é notória tanto no crime organizado como para as autoridades nacionais e internacionais. Apesar de não ter sido mencionada na série Narcos, que retratou a trajetória de Escobar, é inegável o quanto Griselda estruturou o tráfico de drogas colombiano com unhas, dentes e muito sangue.

O nascimento na violência

Griselda Blanco jovem. (Fonte: Sportskeeda/Reprodução)Griselda Blanco jovem. (Fonte: Sportskeeda/Reprodução)

A vida de Griselda Blanco sempre esteve associada à violência. Nascida em 15 de fevereiro de 1943, em Cartagena das Índias, na Colômbia, ela cresceu durante o conturbado período chamado “La Violencia”, que começou em abril de 1948, envolvendo apoiadores do Partido Liberal Colombiano e do Partido Conservador Colombiano. Ao longo de 10 anos de duração, mais de 200 mil pessoas foram mortas no conflito.

Foi dessa maneira que Griselda percebeu e aprendeu que o poder frequentemente vinha por meio de atos violentos. Com isso, aos 11 anos, crescendo na pobreza de Medellín, ela se iniciou no crime quando sequestrou um menino local e o assassinou depois que a tentativa de resgate pela família não deu certo. Os detalhes sobre o acontecimento são nublados, mas é certo que o episódio a empurrou de vez para a vida criminosa, associada a roubos de carteiras e à falsificação de dinheiro.

Aos 13 anos, Griselda conheceu o ponto de virada de sua vida, Carlos Trujillo, que ganhava a vida falsificando documentos e traficando pessoas. Eles mantiveram uma relação amorosa por 10 anos, resultando em 3 filhos e na morte de Trujillo, em meados da década de 1970. Há quem diga que o homem morreu por problemas de saúde, mas muitos acreditam que Griselda estava por trás disso.

(Fonte: World Cinema Paraside/Reprodução)(Fonte: World Cinema Paraside/Reprodução)

O que importa, no entanto, é que foi nessa mesma época a mulher conheceu o contrabandista de drogas Alberto Bravo. Ele que a apresentou a um novo e promissor negócio: a cocaína. A tumultuada Nova York, durante o boom das discotecas nos Estados Unidos, foi o epicentro do mercado de drogas ilícitas para pessoas da década de 1970.

Contando com uma rede de contrabandistas que usavam roupas íntimas projetadas especialmente para esconder drogas para passar pelas fronteiras internacionais, rapidamente o casal formou um império poderoso de venda de cocaína, que colocou a Colômbia como o centro do comércio da droga, trazendo riqueza e perigo.

O ponto sem retorno

(Fonte: All That's Interesting/Reprodução)(Fonte: All That’s Interesting/Reprodução)

Em abril de 1975, a Operação Banshee, liderada pela Polícia de Nova York e a Administração de Repressão às Drogas (DEA), pode ser considerada o ponto sem retorno na relação e na vida criminosa do casal. Eles foram indiciados com mais 30 associados por acusações federais de tráfico, sendo forçados a fugirem de volta para Colômbia.

Foi em meio a esse caos que a relação da dupla se deteriorou de vez, resultando no assassinato de Bravo pelas mãos de Griselda após uma discussão. Por muito tempo, acreditou-se que o homem havia sido morto por outros mafiosos, porém, mais tarde, Griselda alegou que ela mesma o assassinou com um tiro na boca.

Com o apelido de “Viúva Negra” agora em suas costas, a mulher voltou para os EUA para continuar seu império de drogas em Miami. Em seu auge, a rede rendeu mais de US$ 80 milhões em cocaína por mês, distribuída entre Nova York, Los Angeles e Miami.

(Fonte: World Cinema Paradise/Reprodução)(Fonte: World Cinema Paradise/Reprodução)

A violência foi o óleo que manteve Griselda Blanco no poder por tanto tempo. Sua frieza ficou marcada em um dos ataques mais públicos e famosos que aconteceu a mando seu, em 1982, quando ordenou o assassinato de seu sócio Jesus Castro por ele ter supostamente chutado um de seus filhos. No entanto, eles acabaram matando por engano o filho de Castro, o pequeno Johnny, de apenas 2 anos.

Segundo Jorge Ayala, um de seus assassinos, a dona do cartel de Medellín recebeu bem o erro. A princípio, ficou muito brava porque perderam o pai, mas, quando soube do filho, disse que estava feliz, pois dessa forma ela e Castro estavam quites. Em entrevista à OK Magazine, o ex-policial de homicídios de Miami e chefe do departamento de polícia de West Miami, Nelson Andreu, disse que Griselda foi responsável por cerca de 50 ou 100 homicídios em todo o mundo, principalmente no sul da Flórida.

Em 1985, agentes do DEA a prenderam e ela foi condenada a mais de 10 anos de prisão. Foi a partir desse evento que ela teria planejado o sequestro do filho de John F. Kennedy.

Um alvo desprotegido

John Fitzgerald Kennedy Jr. (Fonte: GettyImages/Reprodução)John Fitzgerald Kennedy Jr. (Fonte: GettyImages/Reprodução)

A notícia da prisão e a história de Griselda repercutiu nas telas e páginas dos jornais, atraindo a atenção de Charles Cosby, um traficante de crack de Oakland, uma cidade a 24 km de São Francisco, Califórnia. Ele se encantou com a “rainha da cocaína” e passou a trocar correspondências que culminaram em uma visita à Prisão Federal Feminina.

Com o suborno de funcionários do presídio, o casal se tornou amantes e confidentes de maneira tão intensa que Griselda confiou seu império de drogas ao traficante depois que morreu seu filho Osvaldo.

Em 1994, Jorge Rivi Ayala, principal matador contratado pela criminosa, se tornou testemunha em 3 casos de assassinato em que ela era acusada. Caso condenada, Griselda poderia acabar no corredor da morte. Foi ao saber disso que ela teve a ideia de sequestrar John Fitzgerald Kennedy Jr., e como resgate exigir sua libertação e retorno à Colômbia. Ele foi escolhido como alvo porque não havia uma segurança realmente séria ao seu redor naquela época.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Em certa ocasião, os sequestradores quase concluíram o plano, chegando a cercar o carro de Kennedy Jr., mas uma viatura da polícia acabou se aproximando e eles desistiram da ideia. No podcast Fatal Voyage: The Death of JFK Jr., Colin McLaren, ex-detetive de homicídios, e o jornalista investigativo James Robertson analisaram documentos e descobriram que o próprio Cosby denunciou o plano de Griselda ao Departamento Federal de Investigação (FBI).

É provável que isso tenha acontecido porque os conselheiros de Griselda pensavam que o sequestro de Kennedy Jr. resultaria em uma resposta militar massiva das Forças Armadas, podendo destruir o império de drogas – que era muito maior do que livrar sua fundadora do corredor da morte.

De volta ao chão de Medellín

(Fonte: Harper's Bazaar/Reprodução)(Fonte: Harper’s Bazaar/Reprodução)

Griselda Blanco foi indiciada pelo Ministério Público do Estado de Miami-Dade, em julho de 1995, por 3 assassinatos. Após um acordo, ela se declarou culpada e foi condenada a cumprir apenas o tempo restante de sua sentença federal. Em 2004, a mulher foi deportada para a Colômbia e viveu por 8 anos em El Poblado, o bairro mais rico de Medellín.

Em 3 de setembro de 2012, aos 69 anos, a criminosa foi executada com dois tiros nas costas enquanto deixava um açougue em Medellín, no mesmo lugar onde lavou tanto as ruas de sangue na vontade de prosperar.