Peixes-palhaços contam número de listras para diferenciar a família dos oponentes

Peixes-palhaços contam número de listras para diferenciar a família dos oponentes

Os peixes-palhaços (Amphiprion ocellaris) sempre são lembrados por sua “participação” na clássica animação Procurando Nemo. Mas, diferente de Nemo e seu pai, Marlin, os peixes-palhaços da vida real nem sempre são tão simpáticos. Na realidade, eles podem ser bastante agressivos ao defender seu espaço.

O peixe-palhaço vive em simbiose com as anêmonas, que lhes oferecem proteção. Mas cada colônia deve ter uma anêmona para chamar de sua — e se um peixe-palhaço invadir a “casa” de outra colônia, ele precisa se preparar para a briga. A alfa do grupo partirá para a agressão, perseguindo e até mordendo o invasor. 

Porém, os cientistas já tinham observado visitas amistosas entre diferentes espécies de peixe-palhaço. Isso gerou o questionamento de como eles reconhecem quem será bem recebido de quem será agredido. E a resposta, de acordo com os cientistas do Okinawa Institute of Science and Tech (Japão), está no número de listras brancas no corpo. 

O estudo, publicado em fevereiro de 2024 no Journal of Experimental Biology, indica que os peixes com três listras brancas são mais perseguidos do que aqueles com menos. 

Será que os peixes-palhaços sabem contar?

Das 30 espécies de peixe-palhaço, algumas não têm nenhuma listra, outras têm uma, duas ou até três listras brancas pelo corpo. Nemo e Marlin são da espécie Amphirion ocellaris, ou peixe-palhaço-comum, que geralmente tem três linhas brancas na vertical. 

Segundo os pesquisadores de Okinawa, contar as listras brancas permitiria reconhecer se um peixe é parte de sua colônia ou não. Para testar essa hipótese, eles fizeram duas experiências, colocando peixes-palhaços-comuns criados em laboratório em aquários com várias casinhas. Então, eles colocaram outros animais dessa e de outras espécies de peixe-palhaço no mesmo espaço, para ver a reação.

Era só aparecer um peixe da mesma espécie, com três listras, para a briga começar. Enquanto isso, os intrusos de outras espécies não eram recebidos com mesma agressividade. Na verdade, os peixes com duas listras eram mais confrontados que aqueles com uma ou nenhuma listra. Na segunda experiência, os peixes de verdade foram substituídos por modelos em plástico, mas o padrão de comportamento se repetiu. 

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Os modelos com três linhas brancas eram mais atacados do que aqueles com duas listras — e os que não tinham nenhuma eram bem recebidos. Para Kina Hayashi, co-autora do estudo, os resultados indicam que os peixes-palhaços “são capazes de contar o número de listras brancas para reconhecer a espécie do intruso”. 

Estudos anteriores também apontaram que os peixes-palhaços são muito mais agressivos com modelos de plástico que têm listras verticais em relação às horizontais. Mas o estudo publicado agora só teve peixes e modelos com linhas verticais — isolando essa variável como o principal fator para determinar a recepção de um peixe-palhaço em outra colônia. 

Hayashi conclui que: “Peixes-palhaços são interessantes de estudar por conta de sua relação única e simbiótica com as anêmonas. Mas esse estudo mostra que há muito que nós ainda não sabemos sobre a vida nos ecossistemas marinhos em geral”.