Zoya Kosmodemyanskaya: a jovem que lutou contra nazistas e virou símbolo de esperança soviético

Zoya Kosmodemyanskaya: a jovem que lutou contra nazistas e virou símbolo de esperança soviético

Durante a Segunda Guerra Mundial, diversas histórias nobres de guerra passaram a ser contadas no mundo todo. Na União Soviética, uma jovem estudante de apenas 18 anos se destacou por sua coragem: Zoya Kosmodemyanskaya. Segundo a lenda, quando a Alemanha invadiu seu país em 1941, Zoya se ofereceu como voluntária em um exército guerrilheiro para revidar os ataques nazistas, cortando fios telefônicos alemães e incendiando edifícios usados por oficiais nazis. 

Quando ela foi finalmente capturada, recusou-se a dar qualquer informação que prejudicasse seus companheiros de batalha, sendo executada como punição. A sua demonstração de força perante ao desafio, levou-a a ser considerada mártir e uma “Heroína da União Soviética”. Após sua morte, ela passou a figurar no hall das mais lendárias combatentes da resistência e mulheres guerreiras na história.

A vida de Zoya Kosmodemyanskaya

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Nascida em setembro de 1923 em Osinovye Gai, próximo a Moscou, Zoya veio de uma longa linhagem de padres. Seu pai, Anatoly, contudo, nunca concluiu os estudos no seminário e casou-se com Lyubov Timofeevna. Ambos trabalharam como professores ao longo de suas vidas. Zoya era descrita como uma criança amigável e confiante.

Porém, por trás dessa faceta carismática, existia uma mulher guerreira. Em 1929, ela assumiu um papel político após uma multidão assassinar seu pai, que criticara os líderes de uma rebelião camponesa que reclamavam da forma como o governo soviético estava se apossando de terras agrícolas individuais. Quando estudante, Zoya envolveu-se em organizações juvenis comunistas, expandindo sua influência política.

Passado rebelde soviético

(Fonte: Michigan State University/Reprodução)(Fonte: Michigan State University/Reprodução)

Em 1941, Adolf Hitler iniciou sua marcha sobre a União Soviética. Este foi o maior esforço de invasão da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial e um dos maiores da história, movendo 80% das forças armadas nazistas e mais de 3 milhões de soldados durante os ataques. Como consequência, muitos civis soviéticos foram mortos ou feitos prisioneiros.

Tais eventos fizeram com que Zoya Kosmodemyanskaya abandonasse a Escola Secundária de Moscou para lutar em um exército guerrilheiro. Historiadores relatam que ela, aos 18 anos, alistou-se em uma escola de inteligência, cortando o cabelo e vestindo roupas masculinas. Entre seus feitos de batalha, Zoya cortou o fio do telefone de campanha dos alemães, incendiou quartéis e destruiu um estábulo nazista de 20 cavalos.

Durante uma de suas tentativas de incêndio criminoso, Zoya teria sido capturada. Mas apesar de torturá-la por horas, os nazistas não conseguiram extrair qualquer informação a respeito de seus atos. Sendo assim, os alemães comandados por Hitler optaram por mandá-la para a forca. 

A morte de uma guerrilheira

(Fonte: Chronicle/Alamy Stock Photo/Reprodução)(Fonte: Chronicle/Alamy Stock Photo/Reprodução)

Segundo a lenda, Zoya Kosmodemyanskaya foi enforcada no dia 29 de novembro de 1941 na praça da vila de Petrisheva. Enquanto os aldeões observavam o acontecimento aterrorizados, ela teria supostamente gritado: “Camaradas! Golpeiem os alemães! Queimem-nos!”. Então, Zoya dirigiu-se aos seus inimigos e bradou: “Vocês podem me enforcar agora, mas somos 200 milhões. Vocês não enforcarão a todos. Eu serei vingada e a vitória será nossa!”.

Após sua morte, espalhou-se a notícia do último ato de bravura de Zoya Kosmodemyanskaya pela União Soviética inteira. Um jornal local teria publicado sua história em 1942, descrevendo-a como uma heroína e uma “filha de um grande povo que ninguém jamais poderá quebrar”. Inclusive, o ato teria sido reconhecido por Josef Stalin. 

Nos anos que seguiram à sua morte, ruas e praças por toda a União Soviética receberam o seu nome e monumentos foram frequentemente usados em propaganda anti-nazista e pró-soviética. Mais tarde, no entanto, a lenda de guerra tem sido contestada por alguns especialistas.

O legado polêmico de Kosmodemyanskaya

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Na década de 1990, uma série de ensaios publicados no jornal russo Fatos e Argumentos questionou a história da heroína soviética. Num desses artigos, um jornalista afirmou ter falado com residentes de Petrishchevo, que alegaram não haver oficiais alemães na aldeia quando Kosmodemyanskaya ateou fogo em um dos seus quarteis. Em vez disso, Zoya participava de uma política soviética de “terra arrasada” para dissuadir os alemães.

De acordo com esse mesmo jornalista, não foram os soldados alemães que capturaram e enforcaram a guerrilheira, mas sim os próprios aldeões de Petrishchevo, enfurecidos depois de ela ter tentado incendiar as suas casas. Alegadamente, após a sua morte, as tropas soviéticas chegaram e levaram alguns desses aldeões embora, deixando aqueles que permaneceram com muito medo de falar sobre a verdade por trás da heroína nacional. 

Essas alegações foram recebidas em toda a Rússia com muito choque e raiva, apelidando o texto de “segunda execução de Zoya”. Porém, com provas contraditórias e poucos registros da sua vida, pode ser impossível saber a verdade sobre a jovem Kosmodemyanskaya e se ela realmente foi a mártir russa que muitos conheceram. De todo modo, é certo que sua história inspirou gerações de soviéticos e teve grande participação durante o conflito armado.