Elites do Império Mongol eram obcecadas por leite de iaque

Elites do Império Mongol eram obcecadas por leite de iaque

O derretimento de áreas congeladas em montanhas do leste da Eurásia vem revelando segredos a respeito da rotina, costumes e dieta das pessoas que faziam parte do Império Mongol, nascido sob o comando de Gengis Khan. Uma das descobertas sugere que a elite dos mongóis era “obcecada” pelo leite de iaque.

É o que revela um estudo publicado na revista Communication Biology em abril, liderado por pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Neste trabalho, foram analisados os restos mortais de 11 pessoas, encontrados em um cemitério antigo na área conhecida como Khorig, na Mongólia.

Localizados entre 2018 e 2019, os esqueletos estavam muito bem preservados, devido às temperaturas congelantes da região, mesmo tendo sido enterrados cerca de 800 anos atrás. Os corpos vestiam roupas feitas de materiais finos e traziam bens funerários luxuosos, indicando se tratar de pessoas de status social elevado.

(Fonte: Getty Images/Reprodução)(Fonte: Getty Images/Reprodução)

Com a análise das ossadas, foi possível descobrir evidências do estilo de vida e do cardápio da elite na Era Mongol, como o consumo do leite de égua. Mas algo que chamou a atenção foram as doses elevadas de leite de iaque, reveladas por meio de exames das arcadas dentárias.

Leite, carne e mais

Encontrados na região do Himalaia, nas porções oriental e central da Ásia e na Mongólia, os iaques são herbívoros de pelagem longa que fornecem leite, fibra e carne em grandes quantidades. Eles também atuam como animais de carga, facilitando o transporte de mercadorias pelas montanhas.

Todas essas características eram aproveitadas por quem viveu na Era Mongol, principalmente as pessoas mais ricas, como revelou a investigação recente. Os resultados apresentados por um dos esqueletos ganhou destaque na pesquisa.

(Fonte: Getty Images/Reprodução)(Fonte: Getty Images/Reprodução)

“Nossa descoberta mais importante foi uma mulher de elite enterrada com um chapéu de casca de bétula chamado Bogtog e vestes de seda representando um dragão dourado de cinco garras. Nossas análises proteômicas concluíram que ela bebeu leite de iaque durante sua vida”, disse a professora Alicia Ventresca-Miller, coautora do estudo, em comunicado.

Estudos anteriores indicam que o leite é um recurso aproveitado na região da atual Mongólia há pelo menos 5 mil anos. Porém, esta foi a primeira vez que os cientistas conseguiram identificar uma data em que a elite mongol passou a beber leite de iaque e a sua ligação com as classes mais poderosas.

Saques ameaçam estudos

Ao mesmo tempo em que auxilia o trabalho da ciência, revelando segredos escondidos há séculos, o degelo do permafrost facilita o trabalho de saqueadores. Os especialistas alertam que se as temperaturas continuarem subindo, restos arqueológicos importantíssimos podem ser perdidos durante os furtos de materiais.

“O grau de saque que estamos vendo é sem precedentes. Quase todos os enterros que podemos localizar na superfície foram recentemente destruídos por saques”, reclamou a arqueóloga da NOMAD Science, Julia Clark, participante da pesquisa.