Evidência mais antiga de 'curry' fora da Índia é descoberta por arqueólogos

Evidência mais antiga de 'curry' fora da Índia é descoberta por arqueólogos

Um grupo de arqueólogos trabalhando no sudeste da Ásia descobriu a evidência mais antiga da região de processamento de especiarias usadas nos pratos apelidados pelos ocidentais como “curry”. Os indícios foram achados junto de restos mortais de pelo menos 1,8 mil anos, os quais revelaram novos detalhes sobre as rotas comerciais usadas no passado.

Antes desse novo estudo, apenas algumas pistas limitadas de documentos antigos na Índia, China e Roma forneciam dados sobre os primeiros negócios de especiarias. Contudo, a pesquisa atual é a primeira a confirmar que essas especiarias de fato foram comercializadas e que existiam redes globais de comércio marítimo há quase 2 mil anos. Veja só!

Busca por ingredientes

(Fonte: Khanh Trung Kien Nguyen/Reprodução)(Fonte: Khanh Trung Kien Nguyen/Reprodução)

Na cultura ocidental, a palavra “curry” originou-se por meio dos colonos europeus, que a utilizavam para se referir a qualquer tipo de prato condimentado à base de molho feito no sul da Ásia. O nome, por sua vez, provavelmente veio da palavra tâmil “kari”, que pode ser traduzida como “molho”.

Logo, esse foi um apelido bastante genérico dado pelos colonos para tentar identificar a culinária sul-asiática. O novo estudo comandado pelo arqueólogo Hsiao-chun Hung, da Universidade Nacional da Austrália, examinou restos microscópicos de especiarias em 40 ferramentas de trituração no complexo arqueológico de Óc Eo, no sul do Vietnã, em busca de novas informações.

O objetivo inicial dos pesquisadores era saber mais sobre a função das ferramentas de desbaste chamadas “pesani”. Contudo, a análise do local revelou vestígios de oito especiarias em 12 das ferramentas de pedra utilizadas ali: açafrão, gengibre, gengibre-chinês, cananga-do-Japão, cravo, noz-moscada e canela. 

De acordo com Hung, isso confirma que as ferramentas eram realmente usadas para processar alimentos, mas também mostra um antigo comércio de especiarias — uma vez que vários desses ingredientes são nativos de regiões distantes. Os dados sugerem que pessoas já transportavam alimentos pelo Oceano Índico ou Pacífico muito antes do imaginado anteriormente.

Rotas das especiarias

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Um ponto intrigante a respeito das novas descobertas é que ingredientes como o cravo vinham de um grupo específico de ilhas no leste da Indonésia. Portanto, no momento que você encontra evidências milenares desses alimentos fora de contexto, é possível imaginar que comerciantes já estavam viajando pelo mundo por redes marítimas.

Além disso, escavações anteriores feitas em Óc Eo — localizada entre canais antigos no lado sudoeste de Mekong — sugerem que a cidade já esteve em um ponto de encontro para as principais rotas comerciais que se estendiam até o Mar Mediterrâneo. A maioria das ferramentas analisadas foi escavada pela equipe de pesquisadores entre 2017 e 2019, enquanto outras foram coletadas anteriormente pelo museu local.

Por fim, os estudiosos também encontraram vestígios de coco, restos de arroz e algumas sementes excepcionalmente bem preservadas no local. Uma das sementes de noz-moscada recuperada durante as escavações data para 120 d.C. a 249 d.C., tornando-a o espécime mais antigo conhecido no sudeste da Ásia continental.

As descobertas representam a evidência mais antiga de “curry” encontrada fora da Índia e também relevam que a história das receitas à base de especiarias no Sudeste Asiático são centenas de anos mais longa do que se tinha registrado historicamente.