Sementes alucinógenas utilizadas na Roma Antiga são encontradas dentro de ossos animais

Sementes alucinógenas utilizadas na Roma Antiga são encontradas dentro de ossos animais

Arqueólogos na Holanda fizeram uma descoberta intrigante que revela um pouco mais sobre os antigos costumes romanos: um estoque de sementes venenosas, guardado em um recipiente feito de osso de animal, datado de cerca de 2.000 anos. Essa é a primeira evidência concreta de que os romanos não só coletavam, mas também armazenavam sementes da planta do meimendro-preto (Hyoscyamus niger), conhecida por seus efeitos venenosos e alucinógenos.

O achado, feito no assentamento rural romano de Houten-Castellum, na província holandesa de Utreque, foi publicado no periódico Antiquity da Universidade de Cambridge, e revisitou não apenas a presença dessas sementes, mas também a intencionalidade por trás de seu armazenamento.

Além de suas propriedades medicinais, as sementes de meimendro-preto também foram utilizadas por seus efeitos alucinógenos, conforme relatam textos antigos. Esta descoberta nos leva a repensar não apenas a medicina e os rituais dos romanos, mas também a difusão do conhecimento e práticas dentro do Império.

Pensando no futuro

Osso usado como frasco (esq.) e sementes de meimendro-preto (dir.). (Fonte: Groot & van Haasteren, BIAX Consultant/Divulgação)Osso usado como frasco (esq.) e sementes de meimendro-preto (dir.). (Fonte: Groot & van Haasteren, BIAX Consultant/Divulgação)

O frasco, feito de um osso oco oriundo de cabras ou ovelhas, estava selado com um tampão de casca de bétula-preta, mantendo cerca de 1.000 sementes de meimendro-preto no seu interior. A preservação dessas sementes dentro do frasco sugere que elas eram armazenadas com bastante cuidado para serem usadas futuramente.

A planta do meimendro-preto era conhecida pelos romanos por suas propriedades medicinais e, também, por seus efeitos alucinógenos. Plínio, o Velho, descreveu seus usos medicinais, como tratamento para febre e tosse, mas também alertou para seus efeitos perturbadores no cérebro. 

O fato dessas sementes estarem em um recipiente cuidadosamente selado levanta questões sobre como os romanos usavam essas substâncias e em que contexto. Embora o meimendro cresça naturalmente em torno dos assentamentos romanos, a presença intencional dessas sementes em um frasco de osso sugere um propósito. 

Drogas para fins diversos

Tampo para selar o frasco feito com a casca de bétula-preta. (Fonte: BIAX Consult/Divulgação)Tampo para selar o frasco feito com a casca de bétula-preta. (Fonte: BIAX Consult/Divulgação)

As pesquisas anteriores sugeriam que o osso confeccionado poderia ter sido utilizado como uma espécie de cachimbo para fumar as sementes, mas a falta de sinais de queima indica que esse não era o caso. Em vez disso, parece que as sementes foram armazenadas para uso futuro, talvez para práticas medicinais ou recreação.

Esta descoberta conta um pouco sobre as práticas medicinais e culturais dos romanos que viviam na região, mostrando como o conhecimento medicinal descrito por escritores como Plínio se estendia até mesmo às comunidades rurais na periferia do Império. 

Além disso, o estudo levanta questões fascinantes sobre a interação entre os romanos e as comunidades locais, demonstrando como práticas e conhecimentos se difundiam pelo vasto império. Pesquisas assim nos lembram da complexidade e da riqueza das sociedades antigas, além de ser uma prova de que o uso de alucinógenos é muito mais antigo e comum do que podemos imaginar.